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domingo, 31 de maio de 2009

A EDUCAÇÃO GAÚCHA EM MEIO AOS BURACOS


Neste dia frio e chuvoso de outono, nossos olhos vislumbram não só as imagens e o multicolorido de capas, cachecóis, casacos e abrigos para enfrentar as intempéries. Tudo mesclado com o frenesi da Copa de 2014, na capital.
Vamos folheando as páginas dos jornais e nos defrontamos com o drama dos meninos e meninas de uniforme azul, tendo aula em meio aos buracos.
São 1268 estudantes, da uma escola estadual gaúcha.
A reportagem da Zero Hora de 30 de maio relata:
O atraso em reformas na Escola Estadual de Ensino Médio Carlos Lorea Pinto, em Rio Grande, coloca alunos e professores em risco durante as aulas. O piso de seis salas está comprometido com tábuas soltas e podres. Além disso, o forro ameaça desabar. Um professor e alunos já se machucaram em episódios em que o chão cedeu
Rio Grande é uma linda cidade, próspera, banhada pelo oceano, único porto de mar do Estado, por onde circulam os produtos da economia mundial. Mas, os alunos e os professores da escola Carlos Loréa Pinto não são partícipes dos resultados econômicos, apenas estão na mira do projeto político da Secretaria de Educação gaúcha que prevê corte de despesas, turmas enturmadas, promoções por produtividade, entre outras inovações.
Para a representante da Secretaria, em Rio Grande, Faraildes Ávila, tudo se resume em atraso nas licitações e ajustes com as empresas contratadas, os buracos são detalhes passageiros. Bom lembrar que a professora Faraildes também foi líder sindical, representante da cidade junto ao CPERS.
Para a menina Natalia, de 13 anos, resta o medo de se machucar. Para o professor de História, a perna fraturada. Entre os ajustes financeiros, a demora, a biblioteca fechada a ausência dos conteúdos históricos e o medo restam os buracos da educação. Pequenos detalhes que a foto nos mostra como um travo nas consciências e que não permite calar. E que a injustiça não se perca entre as cinzas do esquecimento. Por isso nos valemos dos versos de Mario Benedetti .
cantamos porque chove sobre o sulco
e somos militantes desta vida
e porque não podemos nem queremos
deixar que a canção se torne cinzas.




segunda-feira, 25 de maio de 2009

VERSIFICANDO COM PATATIVA DE ASSARÉ

Veja trailer de Versificando e Patativa do Assaré - Ave Poesia

Patativa do Assaré (1909-2002) foi poeta e cantador, teve importantes poemas musicados: A Triste Partida na voz de Luiz Gonzaga (1912-1989) - e Vaca Estrela e Boi Fubá, propagado por Fagner, clássicos sobre a situação dos nordestinos vitimados pela da seca e a triste trajetória dos retirantes.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

SI DIOS FUERA MUJER

¿Y si Dios fuera mujer?
pregunta Juan sin inmutarse,
vaya, vaya si Dios fuera mujer
es posible que agnósticos y ateos
no dijéramos no con la cabeza
y dijéramos sí con las entrañas.
Tal vez nos acercáramos a su divina desnudez
para besar sus pies no de bronce,
su pubis no de piedra,
sus pechos no de mármol,
sus labios no de yeso.
Si Dios fuera mujer la abrazaríamos
para arrancarla de su lontananza
y no habría que jurar
hasta que la muerte nos separe
ya que sería inmortal por antonomasia
y en vez de transmitirnos SIDA o pánico
nos contagiaría su inmortalidad.
Si Dios fuera mujer no se instalaría
lejana en el reino de los cielos,
sino que nos aguardaría en el zaguán del infierno,
con sus brazos no cerrados,
su rosa no de plástico
y su amor no de ángeles.
Ay Dios mío, Dios mío
si hasta siempre y desde siempre
fueras una mujer
qué lindo escándalo sería,
qué venturosa, espléndida, imposible,
prodigiosa blasfemia.

domingo, 17 de maio de 2009

Mario Benedetti- porque cantamos

Mário Benedetti nos deixa, hoje, em sua homenagem continuamos cantando.

PORQUE CANTAMOS poema deMario Benedetti

Se cada hora vem com sua morte

se o tempo é um covil de ladrões
os ares já não são tão bons ares
e a vida é nada mais que um alvo móvel
você perguntará por que cantamos
se nossos bravos ficam sem abraço
a pátria está morrendo de tristeza
e o coração do homem se fez cacos
antes mesmo de explodir a vergonha
você perguntará por que cantamos
se estamos longe como um horizonte
se lá ficaram as árvores e céus
e cada noite é sempre alguma ausência
e cada despertar um desencontro
você perguntará por que cantamos
cantamos porque o rio esta soando
e quando soa o rio soao rio
cantamos porque o cruel não tem nome
embora tenha nome seu destino
cantamos pela infância
e porque tudo e porque algum futuro
e porque o povo
cantamos porque os sobreviventes
e nossos mortos querem que cantemos
cantamos porque o grito só não basta
e já não basta o pranto nem a raiva
cantamos porque cremos nessa gente
e porque venceremos a derrota
cantamos porque o sol nos reconhecee
porque o campo cheira a primavera
e porque nesse talo e lá no fruto
cada pergunta tem a sua resposta
cantamos porque chove sobre o sulco
e somos militantes desta vida
e porque não podemos nem queremos
deixar que a canção se torne cinzas.

Recordar através da música

http://www.almacarioca.com.br/arte.htm

quinta-feira, 14 de maio de 2009

EU DEVERIA SER.....

Eu poderia ser uma adolescente normal se não tivesse uma família formada por 11 pessoas.
Eu deveria ter sido uma criança normal se não fossem as responsabilidades que eu cumpria.
Eu deveria gostar do que faço se não fosse obrigada a fazer.
Eu deveria freqüentar ambientes de lazer se não tivesse que trabalhar.
Eu deveria reclamar quando dizem algo que não gosto, se não tivesse inspiração para descrever cada situação.
Eu poderia reivindicar quando sou julgada injustamente, mas calo-me e a humildade prevalece.
Eu deveria ter uma péssima impressão da vida se não fosse a paixão que tenho pela arte de viver.
Valéria, 16 anos, Manari, sertão de Pernambuco.

terça-feira, 12 de maio de 2009

A Moça Tecelã

A Moça Tecelã.
Por Marina Colassanti

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando
em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia
lhe dar.— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura,acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.


Texto extraído do livro “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”, Global Editora , Rio de Janeiro, 2000

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O Chocolatão é aqui, bem atrás dos suntuosos prédios públicos federais


O desigual está ao alcance dos olhos dispostos a ver, os suntosos prédios públicos federais que ofuscam a nossa vista para o Gauiba e, logo ali, minúsculos casebres a céu aberto.
É uma parcela do cotidiano da Vila do Chocolatão, em Porto Alegre, sob as lentes atentas do fotógrafo.
Walter Benjamim diz que "a natureza vista pelos olhos difere da natureza vista pela câmara". O filósofo tem razão quanto ao ponto de vista da câmara e dos olhos, mas uma coincidência os aproxima: a realidade cruel. Os moradores da vila são famílias composta de homens, mulheres, crianças que catam os nossos lixos, as nossas sobras do consumo diário. Os prédios suntuosos são espacos ocupados por altos funcionários do Erário Público. Urge um questionamento poético à maneira de Fernando Pessoa.
Entre a câmara e o olhar está a vida?
Cabe uma pergunta para a foto de Luiz Abreu: para que lado vai o rio?