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quarta-feira, 22 de abril de 2009

O ESCRITOS PRECIOSOS DO SEMEADOR

O romance e o livro nos lares da imaginação e da pedagogia
– ou –
por falar em adivinhação

por Ethon Fonseca

O fabulador personifica as suas idéias dando forma e materializando às imagens de forças contrastantes, ao encenar evocativamente, correlações dinâmicas de suas energias afinadas com reflexões puxadas dos sinais dos tempos. As personas, ou máscaras, são as formas supostamente humanas pelas quais nos educávamos a perceber algumas das tais energias. E por mais que o antropomorfismo possa ser tomado como extemporâneo, as personificações poéticas são matéria das mais sérias com a qual convive o fabulador às voltas com os achados e perdidos do nosso imaginário. À medida em que encontram-se registros e bons modos de leitura nos rumos da almejada vida refletida, cenários, desenhos de estruturas, personalidades, símbolos, com horrores de humor e inteligências se entrelaçam num encordoamento literário freqüentemente identificado com o romance e mais especificamente com o livro. A corda narrativa atravessa intertextualmente peças de entretenimento, montagens culturais, geradoras de imagens, discursos mais literais, trabalhos artísticos e relações cotidianas de tal forma que – pensando nos sentidos do “se contar”, com a razão, num entendimento de ponderação crítica, diabolicamente criativo ou prudentemente contemplativo – não parece exagero dizer que somos não apenas atravessados por, mas constituídos de, narratividade: por narrativas que dão sentidos e que nos habitam, que povoamos com as preciosas fantasmagorias do nosso imaginário, que carregamos e trocamos, distribuindo e elaborando, compondo e configurando, tentando devolver ao lugar da arte a inquietação que nos contagia.

Mas que locus seria este? O do livro, até hoje? Sócrates já questionava a primazia deste grande mestre incapaz de responder às suas perguntas. No entanto o livro, reinventado pelo cristianismo de São Jerônimo, configura dos nossos mitos formativos mais caros, sim, cultuados e celebrados com datas especiais e eventos talvez ainda mais especiais. O objeto, que Caetano qualificou brilhantemente de transcendente, transborda a informação rasteira ou pedestre tocando às compreensões e às imagens mentais de interpretação ou mesmo oração, abrangendo o que se mostra muito bonito ou até mesmo de utilidades nos caminhos da busca pela realização dos maiores objetivos neste mundão de Deus sem porteiras: que podem ser momentos de fases da vida, diálogos, encontros, composições, registros históricos, ou o que mais for portal, artigo ou mesmo comercial, ou passagem que se some e incorpore às veredas desta consciência, que não me pertence mas é tudo o que possuo e posso almejar.

Agora a moda é estudar culturalmente as relações que se constituem ao redor das práticas de leitura, que lhe conferem sentido e importância, também ao longo da História, talvez até para lidar com as mudanças da contemporaneidade. Só quero ressaltar, ao empregar a expressão “passagens” tão utilizada em filosofia para falar de urbanidade em transformação, que se encurtamos os tempos de viagens no espaço, as relações leitoras configuram o exato inverso, em que dilatamos, ao longo de toda a vida, o tempo de apreciação das proposições e dos argumentos desenvolvidos nas obras clássicas da literatura universal, bem como nos projetos de educação operam-se, com mensagens tênues e sofisticadas, ao longo dos processos históricos, para a configuração de relações “edificantes”, e conseqüentemente consistentes em escalas transcendentes destes nossos tempos que parecem sempre estar “urgindo”.

Assim posso passar à segunda pista nesta busca, pelos bons modos em que temos, a essas alturas de vida, de confiar, por um lugar para os desenvolvimentos autorais do próprio imaginário, que é coletivo e mitológico: a ação educativa. Ela é necessariamente qualificada em termos de interesses ou objetivos e de articulações, ao passo que poéticas literárias, como as do cancioneiro, apontam caminhos de processos pensantes não raro ainda mais personalizados e rebuscados do que se costumaria acusar, envolvendo artes eventualmente mais próximas às artes adivinhatórias. E houve época em que toda a cidade passava por um mesmo local para os exercícios da arte adivinhatória, naquele templo em cuja entrada se lia a inscrição “Conhece-te a ti mesmo”, o famoso templo de Delfos. Hoje essa dinâmica é inviável, até porque ninguém ficou nessas saudades, mas a noção de adivinhação está tão impregnada em idéias de sabedoria até hoje em vigor que bem pode servir para uma ou duas ilustrações a respeito do mistério artístico escrito. Como professor, por exemplo, sou obrigado a adivinhar no frentista do posto de gasolina o pai de alunado. Podemos considerar as relações econômicas, de classe, nas estruturas políticas, históricas, mas a complexidade da informação presencial é tamanha que veda maiores prescrições de ordem moral, tratando-se do que se pode considerar não apenas como um julgamento subjetivo ou “adivinhatório”, mas sem dúvida também especulativo e com potencialidades estéticas – de valoração da própria sensacionalidade que se costumava chamar de gosto ou de gostar. Assim o artista persegue intuições, no bojo de suas tão bem conhecidas relações de valoração dos pensamentos, lança proposições, elaborando os jogos de uma revelação e invenção do humano. Como artista é possível que ele também se veja moralmente obrigado a fazer algum tipo de arte adivinhatória, nem que seja a de vislumbrar nas personagens as viabilidades expressivas que ele trata de compor. O exemplo que eu dei pode não ser muito plausível, mas isso pouco importa, porque em compensação ele é bem real. Já as ilustrações literárias tampouco se comprometem com a propriedade convincente da plausibilidade, por operarem num registro de idéias tomadas como viáveis enquanto notas mentais de uma composição, registro de verossimilhança. Nesta jornada aos próprios mistérios talvez não possamos ajudar se não prestigiando os trabalhos, eventualmente incluindo razões bem suas de serem notabilizados. Mas talvez possamos ir ainda mais adiante, no educandário, e considerar as modernas tecnologias da escrituração e da comunicação enquanto inspiradoras de condições que demandem novos trabalhos dignos do nome de romance, novos jogos, enredos e até mesmo festejos.

Me proponho basicamente a levantar a questão. Não cometo a insanidade em tentar respondê-la. Nem digo que o livro tenha dias contados, ou que não se compita com outros veículos ao adotar esse ou aquele nosso modelo no desenvolvimento da própria linguagem. Só fico imaginando como “o poeta ativo e fecundo” (para aproveitar a expressão do Baudelaire das passagens entre a multidão e a solidão) lidaria hoje com suas personagens, e como povoam de fato seu cotidiano com suas expressões e impressões, seus ensaios e poderes, suas peças e máscaras.

Brinde à Cervantes, Shakespeare, Baudelaire, Guimarães Rosa, Alan Moore e Mário de Andrade

segunda-feira, 20 de abril de 2009

FLOR DE LARANJEIRA, MISTÉRIOS E DESEJOS
















São comuns folhetos promocionais colocados em profusão nas nossas caixas de correspondências. Uns recomendam a melhor pizza, a nova farmácia, lavanderia que leva a sua roupa suja e traz de volta limpinha, o profissional que conserta tudo e muitas vezes desconserta para ele mesmo consertar de novo. Como preconiza a livre iniciativa, nos moldes do velho Adam Smith, o mercado tem sua mão invisível, até para a felicidade bater à nossa porta. Isso acontece se você, ao ler atentamente as recomendações dos papeizinhos, consultar a vidente mais poderosa do bairro, que por alguns reais garante sucesso nos negócios e também traz de volta da pessoa amada em cinco dias. Nunca se pode garantir que a volta prometida seja um bom negócio, em todo o caso é preciso pagar e ver para crer.
Mas, a oferta que mais me tocou foi o folhetinho cor de rosa que fala dos benefícios da flor de laranjeira. Aquela florzinha mimosa promete limpar a mente, vencer o estresse do dia a dia, Ainda, segundo o folheto,” a flor de laranjeira é rica em oleolementos (palavrinha difícil) e vitamina C, desperta a autoconfiança e ativa erotismo. O banho com esta flor, dá uma gostosa sensação de frescor e descanso, a flor de Laranjeira também é adstringente e fecha os poros excessivamente dilatados ,tem efeito calmante, digestivo e diurético, ativa os processos mentais,comunicação e expressão.Ainda é expectorante e sedativa, apazigua os ânimos, dá calma e proporciona bem estar”.
Os vizinhos da minha rua e eu, especialmente, temos pés de laranjeiras ao nosso alcance. No meu caso, a laranjeira está em frente à minha janela, foi à presença dela decisiva na escolha da minha nova moradia. O tempo de floração aconteceu precocemente, devido ao desequilíbrio que os homens impingiram à natureza. Confesso que não socializei o milagre da propalada panacéia, como não se pode guardar para si todos os segredos, poucos amigos leram o folhetinho. A laranjeira da foto precisa ser guardada de todos os perigos, da insanidade dos transeuntes que insistem em jogar lixo aos seus pés. Na espera das próximas floradas ,da descoberta de novos efeitos auspiciosos, quantos desejos e promessas pairam no ar. O privilégio de contemplar o pé de laranjeira é quase exclusividade minha. O meu olhar nunca mais será o mesmo depois da descoberta, resta esperar as florzinhas brancas recomendadas no folheto cor de rosa!

domingo, 19 de abril de 2009

O SEMEADOR E AS SUAS SEMENTES


A palavra semear, no dicionário do Aurélio, significa deitar sementes a terra para para que germinem. O nosso Semeador é urbano. Para o ato ou efeito de semear usa o computador (o animalzinho inteligente) onde espalha as sementes das palavras.
O cenário é urbano, basta a área de um apartamento.
Seu nome é Ethon Fonseca, professor, tradutor, escritor, colega no PENSARE, e muitas outras habilidades. Às vezes temos calorosas discussões, afinal a sementeira não germina sem elas. Na maioria das vezes concordamos. Semeador é um amigão muito especial.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

SEM AULAS, SEM PISO, SEMPRE O MESMO ACERCA DO MESMO



Neste outono não são só as folhas que estão caindo e nem só o piso salarial dos professores neste nosso Estado do Rio Grande do Sul, nossas façanhas não cabem mais na sala de aula?Não queremos gracejar com trocadilhos infames, mas também é nossa obrigação fazer crônica das catástrofes anunciadas.Sem tetos perabulam pelas cidades, dormem nas ruas, nas praças, no piso duro das calçadas, parece uma cena banal. Sem aulas, escolas fechadas, turmas enturmadas, "façanhas que não devem de servir de modelo a toda a terra".
Mas, é a nossa terra o palco dos acontecimentos, abaixo do Mambituba existe pecado sim.Pasmem os nordestinos, os nortistas e todos os irmãos brasileiros! A governadora Yeda Crusius é professora de economia com uma carreira brilhante, a secretária da educação Mariza Abreu é professora de história, concursada pela Câmara dos Deputados, militante política, sindicalista, com passagens pelo CPERS- sindicato. São elas as idealizadoras e gestoras da política educacional do estado do Rio Grande do Sul.
As escolas recentemente fechadas, dentro da lógica utilitarista e saneadora do governo, já têm finalidade imediata - servirão de albergue para os presos que cumprem pena em regime aberto - utilidade nobre sim e necessária. A lógica da professora de economia é o saneamento das finanças.
Poupar tostão por tostão!
Ninguém pode acusar a professora de história de não se utilizar da dialética: presidios abertos e escolas fechadas podem ser a tese e antítese. A síntese, nem os deuses do Olimpo arriscariam prognóstico.
Sem falar nas escolas itinerantes do MST, fechadas, lacradas, perigosas.As crianças dos sem-terras que frequentavam as escolas itinerantes podem ser mais perigosas que as crianças dos sem-tetos que nem escolas tem? Para os sem terrinhas havia uma escola que os acompanhavam nos deslocamentos em busca da terra. Para os meninos dos sem-tetos há leito da rua, o crack, o loló enfim, a dura escola da crueldade que aponta para o itinerário dos presídios. Afinal, escola, presídio, piso, teto, terra, casas, educação, professores, alunos são temas banais nas veredas urbanas.
Tudo no mundo é "sempre o mesmo acerca do mesmo" como afirmou Sócrates quando questionado sobre o que dialogava com seus alunos . A foto da ZH de hoje, 15/04/2009, do fotógrafo Marcelo Oliveira, vale mais que mil palavras: uma escola em Cachoeirinha, na grande Porto Alegre, sem aula e sem piso. Nós filósofos somos muito chatos vivemos desvendar a banalidade do banal. Talvez por isso, a Filosofia e a Sociologia, mesmo sendo legalmente obrigatórias, não estejam sendo devidamente ensinadas nas escolas públicas gaúchas.

terça-feira, 14 de abril de 2009

O ESPAÇO DAS XANTIPAS

Os homens livres nascidos em Atenas podiam exercer a plenitude da cidadania. Na assembléia (eklesia) decidiam os destinos da pólis, espraiados na praça pública (agora) praticavam a retórica, julgavam, absolviam, condenavam, anistiavam, enfim: praticavam a justiça e a sabedoria.
Para os gregos, a justiça e a sabedoria é coisa somente de homens!O universo masculino grego não se restringia, apenas, à retórica dos discursos, ao livre acesso ao espaço público e as votações nas assembléias. Infinitos eram os , seus espaços, seus momentos de prazer: de boa mesa, de boa cama, de belos corposda fartura, do sexo entre os iguais.
O espaço público na pólis é o espaço dos homens.Entre os iguais está Sócrates, o filósofo, o mais sábio dos homens, o líder entre os jovens, o destemido crítico. Sócrates como se sabe, não tinha um belo corpo, mas entre os seus escolhidos estava Alcebíades, belo, extravagante, disputado, uma estátua viva zombando da beleza de Zeus. Sócrates e Alcebíades e os outros homens livres participavam do espaço público, dos prazeres do diálogo, da boa mesa e da boa cama.O giniceu, o aposento das mulheres, é o espaço privado. Lá estava Xantipa, mulher de Sócrates.
O historiador Xenofonte, em breve relato, descreveu-a como o estereotipo da ranzinza, da indócil, da megera de temperamento insuportável. No giniceu estão confinadas as mulheres de Atenas que vivem para os seus maridos e que não podem participar das assembléias, dos banquetes e dos jogos olímpicos.
Aos homens o espaço interno do oikos, a publicidade da vida; às mulheres o espaço interno, a privacidade da vida, a reclusão.

sábado, 11 de abril de 2009

AS ÁGUAS QUE NOS MOVEM


As águas da lagoa movem-se lentamente para lá e para cá como se fosse um jogo sincronizado daqueles operados pelos mecanismos de um computador.
Sem o grego Tales na distante Mileto, no século VI a.C. não entenderíamos a imprescindível e vital importância das águas. Também, sem os seus compatriotas seria impossível discutir as idéias que nos movem e o indizível movimento do mundo.
Há os que passam sem ver, há os que vêem e não percebem, há os que sugam a água da lagoa para irrigar os arrozais exportáveis e permutá-los na mais alta cotação do mercado mundial.Conta-se que Tales vivia distraído contemplando o céu apesar de ser um homem bom de cálculo já que calculou com precisão o eclipse que aconteceu séculos depois dele. Apesar disso, tropeçou numa pedra e foi motivo de risos pelos transeuntes. Os que riram dele viam as pedras e não as percebiam, pouco se importavam com as águas, com o movimento. Perceber é mais que ver. Perceber é aguçar os sentidos e percorrer o âmago da alma e os labirintos da razão.Foi Tales quem disse que tudo era úmido e, nós humanos somos tal e quais as águas da lagoa. Mas, como transeuntes vêem e não percebem que o úmido se esgota a cada dia, que o ar que respiramos está quase estático com o efeito estufa. Afinal, o que é que nos temos ver com isso e o para que esse Tales foi buscar o arché.
Dedico aos percebem o mundo e cuidam dele.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

domingo, 5 de abril de 2009

NUESTRA AMÉRICA - memórias que não podem ser esquecidas

http://unlugarenmismundos5.blogspot.com/

NUESTRA AMÉRICA - por quem choram os argentinos



La dictadura en números
2818. Son los días que duró la dictadura iniciada el 24 de marzo de 1976 y concluida el 10 de diciembre de 1983, cuando el radical Raúl Alfonsín asumió la presidencia tras ser electo el 30 de octubre de ese año.
30 mil. Son las personas que, según los organismos defensores de los derechos humanos, fueron secuestradas durante la represión ilegal de la guerrilla. La mayoría de ellas permanece desaparecida.
500. Son los bebés robados a sus madres o nacidos en cautiverio en los centros clandestinos de detención. Ya se logró ubicar y restituir su identidad a casi 100.
500. Es el número de centros clandestinos de detención que funcionaron en la dictadura. La mayoría de ellos corresponden a regimientos, dependencias militares, comisarías o destacamentos policiales. El mayor CCD fue el de la ex Escuela de Mecánica de la Armada, por donde se calcula que pasaron unas 5 mil personas.46 mil millones. Fueron los dólares de deuda externa acumulados al final de la dictadura. Al inicio del autodenominado "Proceso de Reorganización Nacional" la deuda externa ascendía a 6.300 millones de dólares.
517. Es el porcentaje de inflación que se registró entre 1976 y 1983.
14 mil. Es el número de soldados, oficiales y conscriptos enviados a las Islas Malvinas tras el desembarco de 1982 y la recuperación transitoria de la soberanía sobre el archipiélago.694. Son los muertos que dejó la guerra del Atlántico Sur con Gran Bretaña.
http://www.clarin.com/diario/2009/03/24/elpais/p-01883617.htm
Publicado por Fernando Esteban Córdoba en 10:10