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quinta-feira, 3 de junho de 2010

SOBRE LIVROS E CORRENTES


SOBRE LIVROS E CORRENTES
UM TEMPO PARA NÃO ESQUECER

Ivone Bengochea[1]
Se há tempo para tudo debaixo do sol, como apregoa o texto bíblico, deve haver um tempo para não esquecer que a terra gira em torno do sol. Muitos ainda pensam que a terra é centro do mundo, não obstante a chuva de informações a respeito e o martírio de Giordano Bruno. Pior, muitos acham que o mundo gira em direção aos seus umbigos e, consequentemente eles são o umbigo do mundo.
Não somente os poderosos pensam assim. Aliás, os poderosos do mundo podem pensar assim. Eles são poderosos e ponto final, pelo menos até o próximo parágrafo. O problema são os que se pensam poderosos com seus discursinhos decorados e acorrentados pelas suas pretensas e difusas ideologias. Ideologias que não passam pelo crivo de uma sentença indignada do velho Marx. Qual ideologia meu bem? Aquela que eu preciso para viver? Ou por aquela que eles professam e não sabem a razão? Uma oficina sobre a Grécia Antiga é um perigo, os gregos são perigosos e não se coadunam ideologicamente com os contemporâneos líderes dos professores..
Alguém disse que “a glória não paga nada e extingue-se.” Certamente os antigos sabiam disso, os contemporâneos são pagos e exaltam-se, mesmo que sejam extintos. Como extinguiram a biblioteca da nossa entidade de classe e a trocaram por uma tímida sala de leitura, sob alegação de estorvo no espaço físico, e a pouca procura. Os livros, especialmente para a maior entidade da América Latina que congrega professores e funcionários de escola, – ou o politicamente correto trabalhadores em educação –, não deveriam nunca estorvar os dirigentes sindicais e seus associados.
No barraco da associação dos garis, em São Paulo, os livros não são estorvos, são bem-vindos, são lidos. No CIP Carlos Santos, em Porto Alegre, onde estão os meninos encarcerados, cumprindo medidas sócio-educativas, existe uma biblioteca e os meninos, mesmo encarcerados lêem e são incentivados a ler. No bairro operário das Rocas, em Natal, há um humilde pescador que coleciona livros, empresta para os vizinhos e doa para as crianças que o procuram. Nos pobres barracos e no bairro humilde potiguar os livros não incomodam.
No sexagenário e combativo CPERS-Sindicato os livros estorvam, incomodam e precisam ceder os espaços e salas para as múltiplas correntes ideológicas que permeiam os nossos lideres. Nossa entidade está acorrentada sim e as correntes aprisionam. Uma prova do aprisionamento nos elos do dogmatismo é o silêncio sobre o julgamento do presidente do Senado Federal ou sobre a não inclusão da Filosofia e da Sociologia nos currículos das escolas estaduais, apesar de aprovada pelo Conselho Federal de Educação no ano passado. Aulinhas de Filosofia e Sociologia são complementos já disse uma proeminente líder classista, na última greve. Provavelmente a história não a absolverá, as lideranças passam, a história continua com a ética ainda precisando sair das retóricas discursivas.
[1] Professora de Filosofia no ensino médio e universitário, coordenadora do PENSARE

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